quarta-feira, julho 02, 2014

A abstinência de bom futebol


Estou procurando desesperadamente algo que me alivie os sintomas da abstinência de bom futebol. Dois dias sem jogos da Copa estão me parecendo agora um eterno suplicio. Hoje me vi assistindo a reprise dos jogos de ontem, mas a minha dependência do futebol bem jogado ficou mais latente.
Isso me fez raciocinar em cima do que teremos quando a Copa acabar. Serei obrigado a ver novamente as partidas sem graça e sem público do Campeonato Brasileiro. Mais terrível ainda será quando chegar a hora do Campeonato Carioca. Acho que não vou resistir. Terei que imigrar para a Europa para sentir de novo essa mesma emoção.
Uma dúvida atroz tomou conta do meu cérebro. Será a constatação de que não estão jogando a altura de seus concorrentes ao título, o verdadeiro motivo do pranto tantas vezes derramado por nossos jogadores? Uma parte de mim diz que não, outra duvida. A verdade é que nossa seleção está praticando um futebol de sobressaltos e as consequências estão sendo fatais para alguns torcedores. Há relatos de casos de óbitos nos estádios e em frente as televisões. Pelo sim e pelo não, amanhã vou ao meu cardiologista. Com essa seleção brasileira, nunca é demais se precaver.

A menina que queria prender o sol

Beatriz é uma menina muito espevitada. Tem quatro anos, mas gostaria de ser adulta. Quando perguntada o por quê desse desejo, responde que adulto pode tudo, inclusive ver televisão até de manhã. Não adianta explicar que adulto tem insônia e que às vezes ver televisão na madrugada ajuda passar o tempo. Ela retruca que o tempo não pode passar, pois tem muita coisa para fazer, inclusive brincar.

Bia, como Beatriz é mais conhecida, gosta muito de desenhar e pintar. Não necessariamente nesta ordem, mas a qualquer hora do dia... ou da noite. Ela é um pinguinho de gente, magrinha com cabelos negros e escorridos que às vezes lhe cobrem os olhos de menina sapeca. Faltou dizer que Bia também chora por quase nada. Nada? Para ela é quase tudo.

 Semana passada Bia dormia em seu quarto, ainda de manhã, quando um raio de sol começou a brincar com seus olhos. Sonolenta ela os cobriu para fugir do sol e continuar a dormir, mas o raio de sol penetrou por uma fenda da coberta e iluminou os seus olhos. Ela então, os cobriu com as mãos, mas esqueceu-se de fechar os dedos e o raio de sol continuou iluminando seus olhos. Então, ela se virou de bruços para fugir do insistente raio de sol cobrindo-se totalmente. Quando se descobriu, percebeu que o raio de sol agora iluminava sua cama. Bia teve uma grande ideia: pegaria o raio de sol e o guardaria dentro de uma de suas inúmeras caixas de brinquedo. Quando botou a mão em cima do raio de sol viu que ele ficou por cima de sua mão. Intrigada tentou cobrir o raio de sol com a outra mão, mas ele também ficou por cima de sua outra mão.

“Caraca! Esse sol é muito esperto! Como vou prender esse solzinho?” - perguntou-se Beatriz.

Olhando em volta de seu quarto procurou alguma coisa que pudesse lhe servir para aprisionar aquele teimoso raio de sol, mas tudo que usava não conseguia prendê-lo. O que também estava deixando Beatriz irritada era o fato de que o raio de sol, com o passar do tempo, mudava de lugar e agora já estava sobre o seu tapete de borracha vermelho. Ela pensou em chamar sua mãe, mas lembrou-se de que ela sempre lhe dizia que já era uma mocinha e que não podia mais chorar à toa e, se era assim, ela com certeza também poderia prender aquele simples raiozinho de sol.

“Tenho que prender esse solzinho em algum lugar antes que mamãe venha me acordar. Se ela entrar aqui e encontrar esse sol como vou dizer que ainda é muito cedo para me levantar?” - pensou Beatriz.

Bia tentou prender o sol com um saco, com uma colcha, com uma luva, um casaco, um caderno, um prendedor de cabelo, uma revista, uma sandália e até com seu roupão, mas nada conseguia aprisionar o raio de sol.

“Beatriz!”, ela ouviu a voz de sua mãe lhe chamando.

“Estou perdida! Quando ela entrar e encontrar esse solzinho não terei como ficar na cama um pouco mais...”, pensou Beatriz.

De repente sua mãe entrou no quarto e foi então que o milagre aconteceu: uma nuvem enorme ficou em frente à janela de seu quarto, aprisionando o raio de sol.

“Ufa!”, pensou Beatriz, “Estou salva.”

“Minha filha, o que você está fazendo fora da cama? Ainda está com soninho?”

Beatriz fez que sim com a cabeça, então sua mãe falou:

“Hoje é sábado e não tem escola. Você pode dormir mais um pouquinho.”

 Beatriz ficou feliz com a notícia. Olhando para a janela onde a nuvem começava a soltar os raios de sol, disse para sua mãe:

“Está um dia lindo e eu quero me levantar cedo para brincar muuuuito!”.