Beatriz é uma menina muito
espevitada. Tem quatro anos, mas gostaria de ser adulta. Quando perguntada o
por quê desse desejo, responde que adulto pode tudo, inclusive ver televisão
até de manhã. Não adianta explicar que adulto tem insônia e que às vezes ver
televisão na madrugada ajuda passar o tempo. Ela retruca que o tempo não pode
passar, pois tem muita coisa para fazer, inclusive brincar.
Bia, como Beatriz é mais
conhecida, gosta muito de desenhar e pintar. Não necessariamente nesta ordem,
mas a qualquer hora do dia... ou da noite. Ela é um pinguinho de gente,
magrinha com cabelos negros e escorridos que às vezes lhe cobrem os olhos de
menina sapeca. Faltou dizer que Bia também chora por quase nada. Nada? Para ela
é quase tudo.
Semana passada Bia dormia em seu
quarto, ainda de manhã, quando um raio de sol começou a brincar com seus olhos.
Sonolenta ela os cobriu para fugir do sol e continuar a dormir, mas o raio de
sol penetrou por uma fenda da coberta e iluminou os seus olhos. Ela então, os
cobriu com as mãos, mas esqueceu-se de fechar os dedos e o raio de sol
continuou iluminando seus olhos. Então, ela se virou de bruços para fugir do
insistente raio de sol cobrindo-se totalmente. Quando se descobriu, percebeu
que o raio de sol agora iluminava sua cama. Bia teve uma grande ideia: pegaria
o raio de sol e o guardaria dentro de uma de suas inúmeras caixas de brinquedo.
Quando botou a mão em cima do raio de sol viu que ele ficou por cima de sua
mão. Intrigada tentou cobrir o raio de sol com a outra mão, mas ele também
ficou por cima de sua outra mão.
“Caraca! Esse sol é muito
esperto! Como vou prender esse solzinho?” - perguntou-se Beatriz.
Olhando em volta de seu quarto
procurou alguma coisa que pudesse lhe servir para aprisionar aquele teimoso raio
de sol, mas tudo que usava não conseguia prendê-lo. O que também estava
deixando Beatriz irritada era o fato de que o raio de sol, com o passar do
tempo, mudava de lugar e agora já estava sobre o seu tapete de borracha
vermelho. Ela pensou em chamar sua mãe, mas lembrou-se de que ela sempre lhe
dizia que já era uma mocinha e que não podia mais chorar à toa e, se era assim,
ela com certeza também poderia prender aquele simples raiozinho de sol.
“Tenho que prender esse solzinho
em algum lugar antes que mamãe venha me acordar. Se ela entrar aqui e encontrar
esse sol como vou dizer que ainda é muito cedo para me levantar?” - pensou
Beatriz.
Bia tentou prender o sol com um
saco, com uma colcha, com uma luva, um casaco, um caderno, um prendedor de
cabelo, uma revista, uma sandália e até com seu roupão, mas nada conseguia aprisionar
o raio de sol.
“Beatriz!”, ela ouviu a voz de
sua mãe lhe chamando.
“Estou perdida! Quando ela entrar
e encontrar esse solzinho não terei como ficar na cama um pouco mais...”,
pensou Beatriz.
De repente sua mãe entrou no
quarto e foi então que o milagre aconteceu: uma nuvem enorme ficou em frente à
janela de seu quarto, aprisionando o raio de sol.
“Ufa!”, pensou Beatriz, “Estou
salva.”
“Minha filha, o que você está
fazendo fora da cama? Ainda está com soninho?”
Beatriz fez que sim com a cabeça,
então sua mãe falou:
“Hoje é sábado e não tem escola.
Você pode dormir mais um pouquinho.”
Beatriz ficou feliz com a
notícia. Olhando para a janela onde a nuvem começava a soltar os raios de sol, disse
para sua mãe:
“Está um dia lindo e eu quero me
levantar cedo para brincar muuuuito!”.